A sensação que tenho é que nesses processos de criação abro um alçapão cheio de sentimentos, emoções, sensações e pensamentos empoeirados. Ficam todos soltos e desgovernados à minha volta. Então começo a colhê-los e pouco a pouco, os coloco no trabalho. Dou forma e limite para eles. É um período doloroso, confuso e muito solitário.

A vida parece ficar em câmera lenta e distante. E pela distância a vida me parece ficar pequena. Meu mundo de dentro cresce. Cresce. Cresce muito e me engole. Fico perdida dentro dele. Ali acontece de tudo. Parece o mundo de Alice.

Do lado de fora ouço vozes ao longe. Nada me interessa. Mas tomar um sorvete bem cremoso e gelado ainda é algo que gosto de fazer.

O resto do mundo é o resto do mundo. Nada é tão importante assim. Nada é tão importante quanto tudo o que acontece no mundo de dentro, ou quanto o sorvete do mundo de fora.

Estou em uma bolha. Preciso estrear para voltar a viver.

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