É com alegria que crio este blog com o intuito de registrar e compartilhar o processo de criação do meu novo trabalho solo: “Angelina” .
ANGELINA
E eis que no carnaval ela nasce
Numa total e completa falta de jeito
Como um soluço que escapa
Eis que Angelina nasce
Em pleno Carnaval
Desengonçada e estabanada
Confusa, um pouco atordoada
Eis que Angelina nasce
Sem pai nem mãe
Sem alguém
Com ninguém
Sozinha em uma multidão
Foi numa terça-feira de Carnaval
Foi no Carnaval que Angelina nasceu
Há mais coisas que ela não entende
do que coisas que ela entende
e da multidão de gente
tudo ela absorveu
Sem crítica, sem julgamento,
apenas aceitou e aprendeu.
E foi por isso
que de alguma forma
foi no mundo conseguindo se adaptar
Em qualquer situação
lembrava da multidão
e encontrava solução
para do problema se livrar
Ela podia falar em verso ou em prosa,
falava em japonês, árabe, russo,
em riquês, milionês, pobrês ou miserês,
em francês, em português,
falava língua inventada,
até língua de bebês
Mas em dialetos
era o que mais gostava
fosse da tribo que fosse
trazia sempre na memória
a gramática da vez
Angelina, Angelina
Nasceu jogada num poço sem fundo
e dentro dela
todas as religiões entraram misturadas
E o gosto para todas as belezas
era um só que aparecia
apreciando todas as diferenças junto
Angelina nasceu amando
Nasceu amando tudo o que existe no mundo
E tudo o que ela aprendeu
fosse bom ou fosse mau
para ela não fazia diferença
estava apenas existindo
caminhando com as duas pernas que tinha
E aprendeu no Carnaval
que todo mundo é igual
quando canta a mesma marchinha.
Rosa Antuña – Fevereiro de 2016
foto: Makely Ka – “Angelina” no carnaval de Belo Horizonte, MG